segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

1a. Semana do Advento Ciclo do Natal- Segundo dia 02-12-2024

 Evangelho: Mt. 8, 5-11 


Naquele tempo:5*entrando em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos: 6«Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.» 7Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» 8Respondeu-lhe o centurião: «Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. 9Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» 10*Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não enconrei ninguém em Israel com tão grande fé! 11*Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muios virão sentar-se à mesado banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu. 

 

 A fé do centurião causa espanto a Jesus. Trata-se de um pagão, pessoa considerada impura pelos judeus, de um soldado das forças estrangeiras de ocupação da terra de Israel! E todavia manifesta uma fé muito grande, uma fé convicta, determinada, acompanhada por um forte sentimento de indignidade, que não lhe permite ter pretensões. Reconhece que o povo eleito é Israel. Mas também sabe que o poder de Deus, manifestado em Jesus, não tem quaisquer limites. E, tal como a sua palavra de comandante é eficaz, está certo de que, com maior razão, também a palavra de Jesus será eficaz contra a doença do seu servo. 

 

Jesus exalta a fé desse “pagão” como verdadeira fé salvífica. Com este relato, Mateus propõe um caminho de fé que vai da confiança em Jesus, que pode e quer curar, ao acolhimento da sua pessoa como enviado de Deus, à abertura sincera e total que desemboca na fé. 

 

Ao terminar o relato, o evangelista acrescenta uma palavra de Jesus que evoca o banquete do fim dos tempos em que hão-de participar também os pagãos. Mateus, que é hebreu, parece querer provocar ciúmes nos seus irmãos hebreus e sacudir a sua excessiva segurança por serem o povo eleito. 

Meditatio 

 As leituras de hoje abrem horizontes de esperança para todos os povos: Deus «dará as suas leis a muitos povos» (v. 4). Por isso, a nossa oração não pode limitar-se ao nosso horizonte pessoal, mas abrir-se aos desejos e aspirações de todos os homens, para que encontrem plena satisfação em Cristo, o verdadeiro templo a que «acorrerão todas as gentes» (v. 2). 

 O Advento não é um tempo fictício. É verdade que Cristo já veio. Mas ainda não foi anunciado nem acolhido por todos os homens, por todos os povos, que por Ele anseiam. Também é certo que, Aquele que veio, há-de voltar no fim dos tempos, para completar a obra da salvação oferecida a todos os povos. Abramos, pois o coração a quantos ainda não conhecem o Senhor, ou não O querem conhecer, mas que d´Ele precisam e, no fundo, por Ele anseiam. 

 O evangelho diz-nos que, em Cristo, que vem ao nosso encontro, podemos descobrir o rosto de Deus que vem visitar a humanidade, que O procura ansiosamente. 

Mas também nos diz como se vai ao encontro de Cristo que vem. Em primeiro lugar, havemos de ter consciência daquilo que precisamos. O centurião precisa da intervenção de Cristo em favor do servo que sofre. Também nós havemos de estar conscientes das nossas reais necessidades, das nossas misérias… Em segundo lugar, 

precisamos de humildade, isto é, de reconhecermos que não podemos salvar-nos só por nós mesmos. Em terceiro lugar, a humildade há ser acompanhada pela confiança no Senhor que vem ao nosso encontro para nos conduzir pelos caminhos da vida e da luz. A humildade também leva a reconhecer que, ainda que estejamos em urgente necessidade, não somos dignos, e muito menos podemos exigir, que o Filho de Deus se incomode por causa de nós. Não o merecemos. O que fizer por nós é puro dom da sua misericórdia. 

 Precisamos também de fé. Sabemos que Deus tem os seus tempos e modos de actuar. Deixemo-lo actuar como e quando quiser. O centurião nada exige e está disponível para aceitar o que o Senhor quiser. Limita-se a crer em Jesus, a amar a sua vontade. E isso é o mais importante, como Jesus acaba por sublinhar O episódio narrado no evangelho de hoje também nos mostra que a fé não é monopólio de ninguém. Quem escutar a Palavra e aderir a Jesus Cristo, encontra a salvação. Por isso é que a Igreja continua a evangelizar todos os povos. E o Advento é também um tempo missionário que deve alertar-nos para a necessidade de evangelizar. 

 Embora o nosso instituto não seja exclusivamente missionário, as missões «ad gentes» fazem parte das opções apostólicas preferenciais da Congregação. Já o Pe. Dehon, em carta ao Pe. Guillaume, em 3 de Outubro de 1910, indicava os motivos dessa opção: fazer conhecer o amor do Coração de Jesus nas terras infiéis; o espírito de sacrifício e, portanto, de imolação, a alegria de Nosso Senhor e da Igreja (AD B 44). A actividade missionária permanece no Instituto como um modo privilegiado de nos inserir no movimento de amor redentor, iniciado com o mistério da Encarnação e desenvolvermos riquezas da nossa vocação e oblatos-reparadores. O Advento é tempo de reavivarmos a consciência da nossa vocação missionária. 

Oratio 

 Vem, Senhor Jesus! Precisamos de Ti, da realização das tuas promessas. Precisamos da tua palavra, que nos ensine a pôr de lado a prepotência, as incompreensões, as divisões e a violência e a percorrer os caminhos da paz. 

Vem, Senhor Jesus! Ilumina os nossos passos com a luz do teu rosto, e fortalece os nossos corações para sejamos capazes de transformar as lanças em foices e as espadas em relhas de arado. 

 Vem, Senhor Jesus! Vem às nossas vidas, para nos iluminar, nos curar, nos dar a paz. 

 Vem, Senhor Jesus! E, como o centurião, testemunharemos a nossa fé e a nossa confiança em Ti, bem como a nossa gratidão por Te fazeres nosso companheiro de viagem e nosso hóspede: «Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado!» 

Vem, Senhor Jesus! Vem, Senhor Jesus! 

 Contemplatio 

 Edificar e expandir benefícios, tal é o fim das relações exteriores de Jesus. Nós podemos considerá-lo nas suas relações com aqueles que são estranhos à fé judaica, depois nos seus encontros com os seus amigos e com os seus inimigos. As suas relações com aqueles que são estranhos à fé judaica: Várias vezes está em relação com estranhos a respeito da fé nacional, com pagãos, com samaritanos cismáticos. Ganha-os para a verdade pelos seus benefícios e pela sua santidade. Mas não tem sucesso junto de Pilatos, que está prevenido pelo orgulho e pelo interesse. 

 Eis em primeiro lugar o centurião de Cafarnaúm. É pagão, mas é honesto e bom. Mandou mesmo construir uma sinagoga para os judeus. É um homem recto e humilde. Ouviu falar dos milagres de Jesus, e manda-lhe pedir a cura do seu servo. Jesus quer ir a sua casa. O centurião pronuncia esta palavra histórica: «Não sou digno de que entreis em minha casa». Jesus cura o seu servo sem ir mais longe e exalta a fé deste centurião: «Não encontrei uma tão grande fé em Israel» (Leão Dehon, OSP 2, p. 576). 

 Actio 

 Repete frequentemente e vive hoje a palavra: 

«Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas diz uma palavra e serei salvo!» (da Liturgia, cf. Mt 8, 8). 

01º Domingo do Tempo do Advento - Ano C 01.12.2024

 O ADVENTO DA LIBERTAÇÃO EM JESUS CRISTO


Levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.” (Lc. 21,28)

            Com a celebração deste domingo, por meio do tempo do Advento, a Igreja inicia um novo ano litúrgico. Nossas celebrações preparam a comemoração do nascimento do Salvador no passado ao mesmo tempo em que nos ajudam a manter vigilante a expectativa da sua segunda vinda, gloriosa, no fim dos tempos. Com base na reflexão sobre a vinda do Senhor, compreendemos que se trata de um oportuno e necessário tempo de ponderação e oração que nos auxilia no discernimento dos caminhos de nossa vida que necessitam da luz de Jesus para serem bem conduzidos.

Na primeira leitura (Jr. 33,14-16), ouvimos um oráculo proclamado logo após os dias em que a cidade santa sucumbiu ante o poder bélico da Babilônia. Aquele que foi chamado de “profeta da Amargura” porque anunciou a queda de Jerusalém, anuncia a chegada do fruto mais doce da ação divina: o Messias. Esta predição serviu tanto para exortar a manter a fidelidade no exílio como também a revigorar a esperança daqueles que ao retornar a Jerusalém pós-exílio a encontraram destruída. O profeta Jeremias, proclama a fidelidade do Deus da aliança ao anunciar o cumprimento de suas promessas enviando ao seu Povo um descendente da família de Davi. Seu anúncio fala então que a terra santa, desolada e aparentemente infértil, verá surgir um “rebento”, um pequeno broto que é sinal da ação daquele mesmo Deus que outrora fez jorrar torrentes das rochas do deserto. A sua missão será trazer ao mundo as tão almejadas justiça e paz. Por meio da sua missão messiânica o povo voltará a ter dias de fecundidade e vida em abundância.

Na segunda leitura (1Ts. 3,12–4,2), são Paulo escreve aos Tessalonicenses, e aos cristãos de todas as épocas, uma exortação que visa fortalecer o ânimo, evitando assim cair na mediocridade e no comodismo. Muitas décadas já haviam passado desde a morte e ressurreição de Cristo, enquanto muitas comunidades recebiam o anúncio da fé (Querigma), outras fraquejavam por causa da perseguição e também devido a espera não concretizada pela segunda vinda imediata do Senhor Jesus. Os cristãos, povo eleito e marcado pela indelével graça da ressurreição, devem se manter na atitude de esperança enquanto se preparam e esperam pela segunda vinda do Senhor mesma que não saibam quando ela acontecerá. Neste espírito, São Paulo lembra que a comunidade cristã está em permanente peregrinação em direção a santidade/perfeição desejada por Deus. E para que isto seja alcançado é de fundamental importância afim de acolher o senhor que vem, crescer na vivência do amor e na prática da caridade (1Ts. 3,12).

No Evangelho (Lc. 21,25-28.34-36) são Lucas nos apresenta Jesus como o Messias, o descendente/filho de Davi, anunciado pelos profetas. Com Jesus acontece o alvorecer de um novo tempo que vem para substituir o mundo antigo. Neste vindouro tempo haverá liberdade e vida em abundância.

No seu discurso catequético para os discípulos, Jesus descreve os sinais que antecedem a vinda do Messias em sua glória: acontecerá perturbação no sol, na lua e nas estrelas que irão escurecer e farão as pessoas serem tomadas de angústia. Estes sinais cósmicos que a princípio parecerão catástrofes na terra, culminarão na ação salvadora definitiva porque precedem a aparição gloriosa do Filho do Homem, e lembrarão à glória da ressurreição e a transformação que ela realizará no coração dos seres humanos.

Todavia, a salvação/libertação definitiva ainda que demore não deve ser esperada com desânimo e em atitude de comodismo. Faz-se necessário manter-se em constante estado de oração e vigilância para reconhecer e aceitar esta salvação ofertada por Deus como dom. Jesus Cristo, o Messias, veio uma primeira vez quando encarnou-se no ventre da Virgem Maria e virá uma segunda vez na conclusão do projeto de amor de Deus Pai. Cabe aos cristãos reconhecê-lO não somente nos sinais da história, mas também no rosto dos irmãos e irmãos, especialmente daqueles que sofrem e que clamam pela libertação da opressão causada pelo pecado e corrupção que fere a dignidade humana quando impede que todos tenham vida digna.

Ao longo deste Advento, somos convidados a refletir sobre a nossa realidade e a rezar pelas muitas situações de angústia e sofrimento do nosso tempo. Como os discípulos e os cristãos das primeiras comunidades, nestes últimos anos presenciamos sinais catastróficos na natureza, sofrimento em meio as múltiplas guerras que têm ceifado milhões de vidas e que agravou ainda mais a desigualdade social fazendo milhões de pessoas caírem na desolação. O Natal nos convida a abrir o coração à prática da caridade e a viver as obras de misericórdia corporais e espirituais. Mesmo que diariamente vejamos os sinais da guerra, da fome, da doença, o Evangelho nos convida e exorta a perseverar na esperança. Lembremos: a libertação está próxima! É preciso manter-se firme no caminho com Cristo e construir, com Ele, a justiça e a paz.

Pe. Paulo Sergio Silva

Diocese de Crato.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Sermão em Marcos 7.1-23

 


quarta-feira, 5 de junho de 2024

A Igreja que nasceu antes da Bíblia


 Durante 1500 anos a Igreja Católica conservou as Sagradas Escrituras e a transmitiu a seu povo através das Missas

“Recebereis uma força, a força do Espírito Santo que virá sobre vós; e sereis então minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, até as extremidades da terra” (At 1,8).

Diante desta passagem podemos nos perguntar: “– Jesus deixou algo escrito?” Ele disse: “sobre a Bíblia edificareis a minha Igreja?” Não! Cristo fundou a Igreja sobre a vida e o testemunho dos apóstolos. Por esse motivo, não podemos afirmar que somos uma “religião do livro” – apesar de alguns estudiosos das religiões nos considerarem assim. Somos uma “religião do testemunho”.

Os livros contidos na Bíblia servem para nos relatar fatos e verdades de fé. “Diante daquilo que acabei de ler, como deve ser a minha atitude para com Deus e os meus irmãos?”. É para que façamos este tipo de confronto conosco mesmo que as Sagradas Escrituras existem. Servem para mudar a nossa vida (ação transformadora). Mas nem sempre estes textos sagrados existiram. Vejamos como se formou este conjunto de textos sagrados, para que compreendamos a essência da Palavra de Deus.

Comecemos pelo período em que alguns livros foram escritos. É importante saber que o escrito mais antigo do Novo Testamento é 1Tessalonicenses – redigido por volta do ano 51 d.C., quando Paulo se encontrava na Acaia (cf. At 18,12). É importante começarmos por este exemplo apenas para demonstrar que a Bíblia não segue uma ordem cronológica; o primeiro livro do Novo Testamento não foi o Evangelho de Mateus. Além disso, Paulo morreu e provavelmente não viu sequer um Evangelho escrito. Os fatos sobre a vida de Jesus que este incansável apóstolo tanto pregava foram-lhe relatados de maneira oral.

A Igreja, portanto, não nasceu da Bíblia, mas o contrário. Ela não precisou esperar vinte anos após a morte de Jesus para que começasse a nascer (com a carta de São Paulo citada acima). Ela já estava aí. E, além disso, havia entre os cristãos um código de conduta, uma certa tradição, que consistia em dizer com fidelidade quem era Jesus Cristo.

O último livro do Novo Testamento a ser escrito foi o Apocalipse, escrito por São João por volta do ano 100 d.C., quando este se encontrava exilado na ilha de Patmos. Nesta altura da História ainda não havia Bíblia, apesar de todos os seus livros já estarem escritos. Isto porque, quando São Paulo, São João, São Judas Tadeu escreveram suas cartas eles não sabiam que estavam escrevendo partes do Novo Testamento. Os cristãos ainda precisavam escolher quais seriam os escritos que iriam compor as Escrituras Sagradas.

A decisão do Cânone Bíblico, isto é, dos livros que iriam compor as Sagradas Escrituras demorou cerca de 200 anos. Um tempo relativamente longo. Mas a Igreja não resolveu cruzar os braços e esperar esse tempo todo para então afirmar: “Pronto! Agora somos Igreja”. Ela já era antes das Escrituras existirem.

Por volta dos anos 70 d.C. surgem os evangelhos sinóticos e, aos 100 d.C., o evangelho de São João. Não somos nem capazes, muitas vezes, de lembrarmos o que comemos ontem no almoço, como é então que 70, 100 anos depois as pessoas ainda lembravam de detalhes da fala e da vida de Jesus Cristo? Somente por obra do Espírito Santo. O que nos faz crer que a Bíblia foi inspirada por Deus.

Além de toda essa dificuldade ainda havia hereges que queriam reduzir o Novo Testamento a pouquíssimos livros, já outros queriam fazer um apanhado com mais de 40 livros – como era o caso dos gnósticos. Coube, então, aos bispos da Santa Igreja o papel de discernir quais escritos falavam de Cristo com autenticidade e quais eram apócrifos. Portanto, o Espírito deveria inspirar quem escrevia e quem lia. Cada novo escrito que chegava ao conhecimento dos bispos era como uma maçaneta nova, caso o prelado tivesse a chave, a autenticidade da porta seria provada.

Passaram-se muitos anos e já havia Bíblia em muitos lugares. Era por volta do ano de 1500. Neste período nasceu a Reforma Protestante. Para Martinho Lutero, foi fácil afirmar que sola scriptura (somente a Escritura) é fundamento para a verdade de fé, quando vivia na época da imprensa e podia fazer tiragem de cópias e distribuir Bíblia a quem quisesse.

Durante 1500 anos a Igreja Católica conservou as Sagradas Escrituras e a transmitiu a seu povo através das Missas, isto porque nem todos tinham condições de ter a Bíblia em casa. Esta era escrita em pergaminho (feito com pele de carneiro), com uma tinta especial e através de um monge que escrevia à mão a Bíblia inteirinha. Agora, imagine o preço de um produto como esse! Era caríssimo! Por isso, só era reservada a mosteiros, catedrais e bibliotecas ricas.

Mas a Santa Igreja, em sua grande sabedoria, jamais deixou de transmitir Jesus Cristo, a Palavra de Deus, o Verbo Encarnado às pessoas. Mesmo quando a Bíblia ainda nem estava escrita. Sempre foi possível falar de Jesus. Daquele homem que tocou a vida de muitas pessoas ao longo de dois mil anos.

A Palavra de Deus não é a Bíblia, é Jesus, vivo e ressuscitado. Não é um livro onde aprendemos uma doutrina. Nem mesmo um livrinho de histórias. Quando lemos sobre Jesus na Celebração Eucarística trazemos Cristo à assembleia e não apenas um saber milenar. Da mesma maneira que ele vem em forma de pão a nós, também vem em forma de palavra.

Fr. Thiago Pereira, SCJ

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Todos os que o tocava, ficavam curados.Mc 6,53-56

 


EVANGELHO: Mc 6,53-56

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 53 tendo Jesus e seus discípulos acabado de atravessar o mar da Galileia, chegaram a Genesaré e amarraram a barca. 54 Logo que desceram da barca, as pessoas imediatamente reconheceram Jesus. 55 Percorrendo toda aquela região, levavam os doentes deitados em suas camas para o lugar onde ouviam falar que Jesus estava. 56 E, nos povoados, cidades e campos onde chegavam, colocavam os doentes nas praças e pediam-lhe para tocar, ao menos, a barra de sua veste. E todos quantos o tocavam ficavam curados.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

COMENTÁRIO DO EVANGELHO

Na redação dos textos bíblicos, os escritores sagrados de vez em quando fazem um pequeno resumo, aqui e ali, que chamamos de “sumários”. O texto de Marcos que lemos hoje é um desses sumários. O espaço costumeiro de Jesus e seus apóstolos é o lago de Genesaré, na Galileia. Isaías e Mateus se referem a ela como Galileia dos gentios ou das nações e caminho do mar. Simbolicamente é a porta da Casa de Israel para o mundo.

Lá brilha a luz iluminando os povos que viviam na escuridão. De lá saem os apóstolos para levar a luz ao mundo. Aonde Jesus chegava era logo reconhecido e levavam a ele os doentes. Esse era o mundo de Jesus. Quem o procurava tinha fé e queria ao menos poder tocar na franja do seu manto. Hoje e sempre continuamos discutindo se o milagre existe ou é apenas uma ficção literária para mostrar o poder de Jesus e sua divindade, para mostrar a sua misericórdia com todos os que sofrem.

De fato, Jesus sempre deu a entender que o que faz o milagre é a fé de quem pede. Aqueles que acreditam que Jesus é Deus e Homem verdadeiro, e conhecem sua predileção pelos humildes, continuem tocando na franja de seu manto e pedindo-lhe o que aos homens parece impossível. Os que não acreditam, não peçam, mas que alguém peça por eles. Bons amigos são intercessores.

Cônego Celso Pedro da Silva

LEITURA ORANTE

Oração Inicial

Jesus não é apenas um Mestre que ensina um jeito novo de viver. Ele ensina e faz. Fala da misericórdia do Pai e cura as enfermidades, alivia as dores, deixa-se tocar, está entre nós com poder divino.

Rezemos: “Divino Espírito Santo, necessitamos muito de vossa ajuda para conhecer o caminho que devemos seguir. Temos necessidade de vós, para que o nosso coração, inundado pela vossa consolação, se abra e que, muito além das palavras e dos conceitos, possamos perceber a vossa presença. Iluminai a nossa mente, movei o nosso coração, para que esta meditação produza em nós frutos de vida. Amém.”

Leitura (Verdade)

Leia o texto pausadamente e procure imaginar a narrativa. Faça uma segunda leitura e se detenha nos personagens, nas atitudes e expectativas do povo que procura Jesus.

A coerência e o poder de Jesus atraem as pessoas. Sua fama já se espalhara por toda parte. Ele é Deus de Deus e Luz da Luz. Dele emana a força daquele que criou toda a energia do universo. Os mais vulneráveis acorrem a ele, tocam-lhe as vestes em um gesto de fé e humildade.

Aqueles que conviveram com Jesus fizeram essa magnífica experiência de poder tocá-lo, ainda que seja apenas em seu manto. Nós agora o vemos pela fé nos sacramentos, na concretude dos irmãos necessitados e na solidariedade fraterna. Podemos tocá-lo naquele que tem fome, tem sede, não tem onde morar, não tem o que vestir, está doente, é incompreendido, é perseguido. Podemos tocá-lo em cada vitória do bem sobre o mal.

Meditação (Caminho)

Agora, vamos trazer a reflexão da Palavra para a nossa vida. O que o texto diz para mim? Que aspectos da revelação de Deus esta passagem me possibilita conhecer? Que luz me dão as palavras de Jesus? De que maneira esta passagem me compromete? O que ela me pede?

Oração (Vida)

Neste momento de sua oração, aproxime-se do Senhor, silencie o seu coração e faça a sua oração. Apresente a Jesus suas intenções e as necessidades do povo de Deus. Amar, cuidar e rezar com e pelos mais necessitados.

Conclua com a oração do Pai-nosso

Contemplação (Vida e Missão)

De que forma a Palavra de Deus estará presente neste seu dia? O que você deseja colocar em prática segundo os ensinamentos de Jesus?

Bênção

O Senhor Jesus Cristo esteja ao meu lado para me sustentar,
Dentro de mim para me encorajar,
Diante de mim para me orientar,
Atrás de mim para me proteger,
Acima de mim para me abençoar.
Ele que vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.
Que a bênção de Deus Pai de amor e bondade desça sobre mim, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

A multidão como ovelhas sem pastor – Mc 6,30-34

 


EVANGELHO: Mc 6,30-34

         – O Senhor esteja convosco.
          – Ele está no meio de nós.
– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo São Marcos.
          – Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer. 32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles.
34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós Senhor.

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Comentário do Evangelho

São ovelhas sem pastor. Muita gente vai atrás de Jesus porque ele é acessível, e faz bem tudo o que faz. Jesus tem compaixão de toda essa gente que vai atrás dele porque o normal seria que não fosse, que não precisasse de uma liderança extraordinária. Se as pessoas tivessem pastor, não precisariam correr atrás de Jesus ou correriam por outra razão. Jesus é homem de seu tempo e vive sua realidade humana com intensidade. Ele sabia, como nós sabemos, que se tanta gente anda atrás de cura é porque está faltando alguma coisa básica na organização da sociedade. A procura de bênçãos e de milagres é indicativa da falta de recursos, de atendimento médico, de medicamentos; é indicativa da falta de saúde, que tem suas causas. Se os pastores do povo, pastores do trabalho, pastores da saúde, pastores da educação estão mais preocupados com o seu lazer do que com o seu dever, o povo está sem pastor algum. Quem vai suprir a falta? Jesus dá o exemplo e começa. Começa ensinando-lhes muitas coisas. Ele começa com a educação. Povo sem conhecimento não sabe se defender. Povo instruído dirá aos pastores que não devorem as ovelhas, mas cuidem delas.

Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas

LEITURA ORANTE

Oração Inicial
Na escuta e na meditação da Palavra, contemplaremos o Mestre cheio de compaixão pela multidão que o procura. Que a Palavra provoque em nós os mesmos sentimentos de Jesus e nos torne sensíveis aos irmãos necessitados.

Oremos: “Jesus Mestre, cremos com viva fé que estais aqui presente, para indicar-nos o caminho que leva ao Pai. Iluminai nossa mente, movei nosso coração, para que esta meditação produza em nós frutos de vida. Amém.”

Leitura (Verdade)
O que diz o texto? Por que Jesus chama seus discípulos para um descanso? O que procura a multidão que vai ao encontro de Jesus? O que desperta a compaixão em Jesus?
“[…] O trecho do evangelho narra a volta dos Doze da missão para a qual foram enviados (cf. Mc 6,6b-12). A indeterminação do período de duração da missão parece querer fazer o leitor compreender que a missão se estende para além de qualquer circunscrição histórica. Depois da partilha (v. 30), os discípulos são convidados por Jesus a um lugar distante para descansar. O ‘descanso’ é o que permite ver que é Deus quem está na origem de todo o bem feito. O descanso é dado para recordar o quanto o Senhor fez por seu povo. A proposta não pôde ser levada a termo em razão do grande número de pessoas que procuravam Jesus (cf. tb. Mc 3,20) e do sentimento que move Jesus na realização de sua missão: a ‘compaixão’ (v. 34). A compaixão é um sentimento divino que faz agir em favor das pessoas, socorrendo-as em suas necessidades; não se confunde com a simples pena ou dó, mas abre o coração para que a pessoa ofereça o melhor de si mesma em favor dos demais” (Reflexão de Pe. Carlos Alberto Contieri, sj, em “A Bíblia dia a dia”, Paulinas Editora).

Meditação (Caminho)
O que o texto diz a você? Qual é o rosto da multidão que hoje procura por Jesus? Também em você existe o sentimento de compaixão pelos irmãos com fome, desamparados, excluídos? O que Jesus lhe pede hoje? De que forma você se compromete com o texto?
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Oração (Vida)
Salmo 22
O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha e restaura as minhas forças.
Ele me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, está comigo com bastão e com cajado; eles me dão a segurança.
Preparais à minha frente uma mesa, bem à vista do inimigo, e com óleo vós ungis minha cabeça; o meu cálice transborda.
Felicidade e todo bem hão de seguir-me por toda a minha vida; e na casa do Senhor habitarei pelos tempos infinitos.

Contemplação (Vida e Missão)
Com a Palavra de Deus na mente e no coração, qual atitude você se propõe a viver hoje?

Bênção
– Que Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
– Que Ele nos mostre a Sua face e se compadeça de nós. Amém.
– Que volte para nós o Seu olhar e nos dê a paz. Amém.
– Abençoe-nos, Deus misericordioso, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

João Batista ressuscitou dos mortos – Mc 6,14-29

 


EVANGELHO: Mc 6,14-29

          – O Senhor esteja convosco.
          – Ele está no meio de nós.
– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo São Marcos.
          – Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 14o rei Herodes ouviu falar de Jesus, cujo nome se tinha tornado muito conhecido. Alguns diziam: “João Batista ressuscitou dos mortos. Por isso os poderes agem nesse homem”. 15Outros diziam: “É Elias”. Outros ainda diziam: “É um profeta como um dos profetas”. 16Ouvindo isto, Herodes disse: “Ele é João Batista. Eu mandei cortar a cabeça dele, mas ele ressuscitou!” 17Herodes tinha mandado prender João, e colocá-lo acorrentado na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, mulher do seu irmão Filipe, com quem se tinha casado.
18João dizia a Herodes: “Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão”. 19Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, mas não podia. 20Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava.
21Finalmente, chegou o dia oportuno. Era o aniversário de Herodes, e ele fez um grande banquete para os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos importantes da Galileia. 22A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e seus convidados. Então o rei disse à moça: “Pede-me o que quiseres e eu te darei”. 23E lhe jurou dizendo: “Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. 24Ela saiu e perguntou à mãe: “Que vou pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João Batista”. 25E, voltando depressa para junto do rei, pediu: “Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista”. 26O rei ficou muito triste, mas não pôde recusar. Ele tinha feito o juramento diante dos convidados. 27Imediatamente, o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o na prisão, 28trouxe a cabeça num prato e a deu à moça. Ela a entregou à sua mãe. 29Ao saberem disso, os discípulos de João foram lá, levaram o cadáver e o sepultaram.

  • Palavra da Salvação
    – Glória a vós Senhor.

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Comentário do Evangelho

O rei Herodes estava convencido de que Jesus era João Batista ressuscitado. De fato, ele tinha mandado cortar a cabeça de João Batista. Este é o Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, com a samaritana Menace. Em seu reinado morreram João Batista e Jesus. No Evangelho de Lucas, Jesus se refere a Herodes como “aquela raposa”. Jesus não disse uma palavra quando Pilatos o enviou para ser interrogado por Herodes. É certo historicamente que João foi preso algum tempo depois do Batismo de Jesus e executado por ordem de Herodes Antipas. Jesus dá continuidade ao ministério de João no mesmo espaço geográfico governado por Herodes. A morte violenta do precursor transformou-se em sinal e alerta para o profeta que anunciava com o mesmo vigor a chegada do Reino de Deus. A pregação do Reino de Deus une estreitamente João Batista e Jesus. Conhecendo a história dos profetas e vendo o fim de João, Jesus de Nazaré, o Filho do Homem, podia prever a própria morte. O historiador Flávio Josefo dá a entender que Herodes tinha medo da força política de João Batista.

Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2020’, Paulinas

LEITURA ORANTE

Oração Inicial
Divino Espírito Santo ajude-me entender o alcance da mensagem do Evangelho que a liturgia proclama hoje. Rezo com fé: Vem Espírito Santo Vem! Ilumina minha mente para que eu compreenda a profundidade e a extensão dessa mensagem, que Jesus veio nos trazer, por meio do testemunho de vida do seu precursor – João, Batista. São João, Batista sede meu intercessor junto a Jesus e livra-me de todos os perigos e tentações visíveis e invisíveis. Amém.

Leitura (Verdade)
Releio mais de uma vez esse Evangelho e me pergunto: qual é a mensagem central? o que ele quer me ensinar? O que significa ser profeta? Ter atitudes de profeta? Como me comporto diante dos falsos profetas, como o rei Herodes, capaz de tirar a vida de um inocente só para justificar sua maldade? Sou capaz de ser fiel a essa missão profética de denunciar com todas as forças o mal e proclamar, divulgar o bem?
“Herodes representa o poder corrompido, capaz de fazer qualquer coisa para salvar sua situação. Ele gostava de ouvir João Batista, mas não seguia suas normas. Agora ouve falar de Jesus. Mal sabe ele que se trata daquele Menino que veio para salvar Israel, que seu pai tentou matar na infância. Uns têm medo de não encontrar Jesus; Herodes tem medo de encontrá-lo. Santo Agostinho dizia: “Tenho medo da graça [Jesus] que passa sem que eu perceba”. No texto de hoje Jesus é considerado profeta; de fato ele o é. Faz parte do ser cristão assumir a missão profética, como Jesus assumiu, e aceitar os desafios que surgem desta atitude. A missão do profeta é denunciar o mal e – principalmente – anunciar a Boa-Nova.” (Frei Mário Sérgio Souza, em “Viver a Palavra”, da Paulinas Editora).

Meditação (Caminho)
“Não te é permitido ter a mulher do teu irmão”. Meu irmão, minha irmã não são somente meus familiares, mas todo homem e toda mulher são meus irmãos. Como respeito esses meus irmãos, sobretudo a mulher? Seja ela criança, adolescente, jovem ao adulta: como me comporto diante do sexo feminino? Sou capaz de respeitá-la em toda a sua dignidade de “minha” irmã?

Oração (Vida)
Senhor Jesus, tu que sempre e em todas as circunstâncias defendeste a dignidade da mulher, tu que enalteceste a mulher começando por tua mãe; tu que defendeste a pecadora revelando os pecados secretos de seus apedrejadores, tem compaixão de toda mulher que sofre qualquer tipo de opressão.Tem piedade Senhor, tem piedade! Rezo com profunda devoção: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres. Santa Maria Mãe de Deus, rogai por todas as mulheres do mundo para que sejam respeitadas e dignas das promessas de Jesus Cristo. Amém.

Contemplação (Vida e Missão)
Me aproximo de Jesus e procuro observar como ele trata com ternura todas as pessoas. Como ele se relaciona com as mulheres que o seguiam, como apóstolas e discípulas e com aquelas que o serviam com seus bens. Essa contemplação me estimula a ser como ele – um defensor(a) da mulher em todas as suas etapas e situações de vida.

Bênção

  • Que Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
  • Que Ele nos mostre a Sua face e se compadeça de nós. Amém.
  • Que volte para nós o Seu olhar e nos dê a paz. Amém.
  • Abençoe-nos, Deus misericordioso, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

Paulinas